O conteúdo deste blog é destinado a estudos sobre a bolsa de valores. A decisão de compra ou venda de qualquer ativo é de inteira responsabilidade de cada um.

domingo, 17 de outubro de 2010

De olho em papéis domésticos? Descontados, bancos são opção atrativa

SÃO PAULO – Com a economia externa ainda bastante fragilizada por conta da crise, apostar em papéis atrelados ao mercado doméstico tornou-se a premissa básica da estratégia de muitos analistas - afinal, o Brasil vive um momento econômico bastante favorável.
Não à toa, muitas ações do setor de consumo e varejo da BM&F Bovespa mostram valorizações de mais de 100% no acumulado deste ano – os papéis da Lojas Marisa (AMAR3), por exemplo, subiram mais de 151% desde janeiro, considerando as cotações de fechamento da última quinta-feira. Para se ter uma ideia da dimensão da trajetória, o Ibovespa registra no mesmo período uma alta de pouco mais de 4,7%.
Há pouca contestação de que o ambiente ao setor seja, de fato, bastante positivo. No entanto, apostar no mercado doméstico não é apostar apenas no varejo. Boa parte dos louros do crescimento econômico também vai para o setor financeiro, cujos papéis, todavia, mostram uma performance bem mais modesta na bolsa.
Ativos de instituições financeiras tidas como sólidas pelos analistas, como os preferenciais do Itaú Unibanco (ITUB4) e os ordinários do Banco do Brasil (BBAS3), por exemplo, registram em 2010 valorizações de apenas 12,49% e 23,64%, respectivamente. “O setor é negociado atualmente a patamares muito atrativos”, diz Daniel Abut, analista do Citigroup.
Setor barato e atrativo
“Em comparação ao mercado brasileiro e, especificamente, outras apostas no segmento de consumo do País, os grandes bancos não parecem caros. Na verdade, parecem baratos e bastante atrativos em termos de múltiplos de lucros”, diz Victor Galliano e Mariel Santiago, dupla de analistas do HSBC.
De fato, Abut enxerga certo otimismo excessivo quanto a papéis de varejistas e outras empresas ligadas diretamente ao consumo, em detrimento dos papéis do setor financeiro. “Eu vejo expressivo potencial de valorização para as ações dos quatro maiores bancos brasileiros. Além de estarem bastante atrativas, esperamos forte crescimento nos índices de rentabilidade e nos lucros destas companhias nos próximos trimestres”, afirma.
A equipe do HSBC compartilha de visão semelhante, e ainda introduz o fator internacional em sua argumentação. Para Galliano e Santiago, os grandes bancos do Peru, Colômbia e Chile atualmente “são negociados a prêmios para os brasileiros”. Frente a outros países emergentes, como a China e Índia, o setor financeiro é o que possui as melhores perspectivas. “Em geral, dentre os grandes bancos do mercado emergente, os brasileiros são beneficiados por uma perspectiva favorável do crescimento do crédito e fortes balanços que podem sustentar mais crescimento”, dizem.
Os fundamentos do otimismo
Muitos são os aspectos que sustentam a visão favorável dos analistas do HSBC e do Citi para o setor bancário brasileiro, grande parte deles relacionada ao crédito. “Em comparação a outras economias do mercado emergente, a penetração do crédito ao consumidor em termos de percentual do PIB ainda é relativamente baixa no Brasil. A grande mudança ascendente na mobilidade social, cremos, aumenta o potencial para maior penetração do crédito”, diz a dupla do HSBC.
Como apontam os analistas, o crescimento da classe média no Brasil é extremamente positivo às grandes instituições bancárias. Em janeiro de 2004, as classes D e E, juntas, representavam 53,8% da população brasileira; em julho deste ano, a fatia havia caído para 36,2%. “Tal tendência de queda deve continuar”, dizem Galliano e Santiago.
Para Abut, a trajetória de expansão das carteiras de crédito dos quatro maiores bancos do País – Itaú Unibanco, Banco do Brasil, Bradesco (BBDC4) e Santander Brasil (SANB11) – deve experimentar certo arrefecimento nos próximos trimestres, mas ainda assim, “os crescimentos continuarão bastante robustos”.
Outros fatores favoráveis apontados pelos analistas são a queda nos índices de inadimplência – os atrasos em crédito ao consumidor, publicados pelo Banco Central, encontram-se em seu recorde mínimo da série de quatro anos – e a provável mudança do foco do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) daqui para a frente.
“Acreditamos que o BNDES provavelmente retornará seu foco para empréstimos para infraestrutura a partir de 2011, reduzindo, portanto, sua ênfase no crédito corporativo. À medida que isto acontecer, os bancos comerciais terão uma maior parcela do mercado corporativo, cujos spreads terão pressão reduzida com a menor oferta de crédito do BNDES”, dizem os analistas do HSBC.
Papel por papel
Com base em tais perspectivas, a visão dos analistas para os quatro papéis em questão é, no geral, positiva. Abut revela call de compra para as quatro ações, ao passo que a dupla do HSBC classifica os ativos como “overweight” – desempenho acima da média do mercado -, com exceção para as ações do Bradesco, que seguem sob visão “neutra”.
Veja abaixo as principais considerações de cada equipe acerca dos quatro papéis:
• Banco do Brasil
Os papéis ordinários da maior instituição financeira brasileira recebem call de compra pelo Citi e classificação “overweight” pelo HSBC, que elege a companhia como “a principal aposta em valor no universo de grandes bancos brasileiros, negociada a um desconto significativo para seus principais pares do setor privado”.
Segundo o HSBC, o Banco do Brasil é quem está melhor posicionado para absorver uma futura pressão de margens, já que suas operações de crédito a pequenas e médias empresas crescem mais rápido que sua exposição ao agronegócio. O Citi, por sua vez, prevê bons crescimentos na rentabilidade e lucro por ação neste ano e em 2011.
• Itaú Unibanco
Assim como o BB, as ações do Itaú Unibanco também recebem os melhores calls por parte do HSBC e Citi, que também escolhe o banco como seu top pick no setor financeiro brasileiro, avistando um potencial de valorização de cerca de 50% nos próximos 12 meses.
Por sua vez, o HSBC prevê continuidade da tendência de crescimento do crédito, “ainda que com pressão discreta nas margens”, e atenta também para maiores economias de custos e ganhos adicionais com sinergias daqui para frente.
• Bradesco
“O Bradesco é uma empresa líder em mobilidade social no Brasil e na classe média-baixa emergente com aumento de apetite por produtos financeiros”, dizem os analistas do HSBC. No entanto, o banco expressa preocupação quanto ao aumento nas despesas operacionais do banco, e por isso, prefere manter uma postura mais cautelosa, com classificação “neutra” às ações. “Qualquer desaceleração na receita, que pode acontecer em 2011, precisará ser acompanhada por uma disciplina de custos mais rígida”, dizem.
Por sua vez, o Citi segue otimista quanto ao banco, embora preveja ao Bradesco índices de rentabilidade e lucro um pouco abaixo dos traçados aos seus concorrentes.
• Santander Brasil
O conceito que sustenta o call de compra do Citi e a classificação “overweight” do HSBC às units do Santander Brasil é crescimento. O menor dos quatro bancos analisados vem trilhando forte expansão em sua carteira de crédito nos últimos trimestres, e a visão dos analistas é de que a tendência deve ser mantida.
“A qualidade do crédito continua em tendência positiva, considerando o ciclo de crédito no Brasil e a limpeza da carteira do Santander com baixas pesadas nos últimos cinco trimestres”, dizem os analistas do HSBC.

Nenhum comentário:

Postar um comentário